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Todos os Homens honestos mataram César. A alguns faltou arte, a outros coragem e a outros oportunidade mas a nenhum faltou a vontade
- Marcus Tullius Cicero -


sexta-feira, 4 de abril de 2008

 

Um dia da vida de um senador


Como quase sempre, o senador foi acordado pelo labor dos escravos a limpar e a aquecer a casa e a preparar as refeições. Ao sair da sua alcova, encontra o filho, de 12 anos, que se prepara para ir à escola, acompanhado pelo pedagogo. Em seguida, entrega-se aos cuidados do barbeiro e come uma refeição ligeira. Depois de fazer as suas orações junto do altar doméstico, recebe os seus clientes. Trata de negócios, no scriptorium, e, após colocar a toga debruada a púrpura, sai, acompanhado pelo secretário ( um escravo grego).
Passa pelo templo de Júpiter Capitolino, onde faz uma oferenda ao deus e dirige-se, em seguida, ao edifício do Senado, para participar numa sessão presidida pelo imperador.
Regressado a casa, toma uma nova refeição, na companhia da família. Pela hora oitava (13 horas), vai ao Coliseu, para assistir a um espectáculo em que participa a sua própria equipa de gladiadores. Dali segue para as Termas de Trajano, onde toma banho e recebe uma massagem, enquanto conversa com os amigos.
À noite, o senador oferece um banquente em honra do governador da Bética, acabado de regressar a Roma. No triclinium (sala de jantar), reclinados em leitos, os convidados, servidos por escravos, saboreiam um aperitivo, três entradas, dois assados e a sobremesa, tudo acompanhado com o apreciado vinho de Falermo, em geral cortado com água.
Pela hora sétima nocturna (meia-noite), os convidados retiram~se e o senador vai-se deitar.


domingo, 9 de março de 2008

 

Os Bairros Populares de Roma


"Vivemos numa cidade onde a grande maioria das casas são construídas com finas vigas de madeira. Deste modo, são frequentes os desmoronamentos e os incêndios. [...] É preciso ser-se rico para poder dormir sem barulhos, em calmas vivendas [...]. A passagem das carroças nas ruas estreitas, ou as discussões por causa de um rebanho que não avança, tiram o sono a qualquer um. O rico, quando tem pressa, consegue passar rapidamente por entre a multidão, transportado na sua cómoda liteira. Mas eu, coitado de mim, não consigo avançar por entre o rio humano que me comprime e empurra[...].
E, se isto não bastasse, há ainda outro género de perigos aos quais estamos expostos, quando caminhamos, de noite, pelas ruas: frequentemente, das janelas, das varandas ou dos telhados tombam tijolos, vasos ou telhas que nos podem esmagar o crânio [...]. Podemos dar-nos por felizes se apenas apanharmos com o conteúdo de uma bacia em cima! [...] E não falemos de outras desgraças [...] Pode acontecer também que nos apareça pela frente um bandido, de faca em punho [...].

Juvenal (poeta romano do século I d. C.), "Sátiras", III


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

 

Termas e banhos públicos


Guiados pelo bom senso, os romanos deram grande importância aos cuidados sanitários e de higiene. Havia um sistema de esgotos na cidade de Roma que não foi ultrapassado por qualquer sistema semelhante no mundo todo, até o século XIX .



cloaca maxima
Os esgotos eram levados em condutos subterrâneos até um local, a cloaca maxima, onde eram lançados no rio Tibre. Além de privadas nas casas, havia sanitários públicos, alguns deles muito luxuosos, todos equipados com água corrente.


latrina As casas luxuosas dispunham de banhos privativos, com água canalizada (através de canalizações de chumbo ou de cerâmica), mas os pobres tinham que utilizar as latrinas e as termas púplicas, como os banhos de Caracalla, capazes de acomodar mil e seiscentas pessoas de cada vez, ou os de Diocleciano, com três mil quartos de banho. Isso mostra que o asseio era uma prática generalizada, em Roma.

Os Romanos passavam muito tempo mas termas ou banhos púplicos. Estes eram, simultaneamente locais para cuidar da higiene do corpo e locais de encontro e de convívio. Para além das piscinas de água quente e fria, algumas termas tinham também edifícios anexos com ginásios, estádio, bibliotecas, lojas, etc.
Em 33 a.C., já existiam 170 banhos públicos em Roma.

Pont du Gard


Para proporcionar água destinada ao consumo e à limpeza, a cidade de Roma era provida de 14 grandes aquedutos que traziam água de fontes distantes através de condutos subterrâneos ou suspensos. No início da era cristã, eles proporcionavam à cidade cerca de 200 milhões de litros de água por dia. Os romanos implantavam também sistemas de água e esgoto nas principais regiões que conquistavam. Existe um aqueduto em Nîmes, em França, que é utilizado até hoje, dois mil anos depois de sua construção.
Muitas outras cidades do Império também tinham rede de esgotos e de água ao domicílio, como acontecia em Conímbriga, por exemplo.

Todos os cuidados com a água, esgoto, asseio pessoal e limpeza da cidade certamente contribuiram muito para preservar os romanos de doenças. É difícil saber, no entanto, até que ponto eles estavam conscientes dos benefícios dessas medidas para a saúde, e até que ponto eram guiados apenas por considerações estéticas (beleza, limpeza, cheiro agradável, etc.).



terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

 

Os escravos na sociedade Romana


O prefeito Pesânio Segundo foi morto por um dos seus escravos. De acordo com um antigo costume, todos os escravos que habitavam debaixo do mesmo tecto, em número de 400, deveriam ser condenados à morte. O povo compadecido, pedi o perdão [...] mas o imperador Nero ordenou a execução.

Tácito, Anais, XIV - 431



"São escravos, dizes. Mas são também homens! Escravos? Eu diria que são amigos de humilde condição. Lembra-te de que o ser a quem chamas escravo nasceu do mesmo modo que tu, cresce debaixo do mesmo céu, vive e morre como tu. Um dia, quem sabe, ele poderá ser livre e tu escravo. Trata os teus subordinados como gostarias que os teus superiores te tratassem a ti."

Séneca (filósofo romano do século I d.C.), "Carta a Lucílio"


quarta-feira, 21 de novembro de 2007

 

Um Novo-Rico, em Roma


Trimalcião, um homem riquíssimo, conta como fez fortuna:

"Eu tinha uma grande paixão pelos negócios. Construi cinco navios, enchi-os com um carregamento de vinho - que tinha um preço muito elevado na ocasião - e mandei-os para Roma. Construí mais alguns navios, maiores, melhores e mais caros. [...] Obtive outro carregamento de vinho, presuntos, favas, perfumes e escravos. Numa só viagem consegui dois milhões de sestércios líquidos. Imediatamente comprei todas as propriedades que tinham pertencido ao meu antigo Amo.
Construí uma casa e comprei cavalos e escravos: tudo o que eu trocava crescia como um favo de mel. Quando consegui ter recursos superiores [...] retirei-me dos negócios e comecei a emprestar dinheiro aos libertos."

Petrónio


sábado, 27 de outubro de 2007

 

A classe senatorial e a ordem equestre


No topo da hierarquia social romana situava-se a ordem senatorial(1), cujos membros tinham de possuir uma fortuna avaliada em mais de um milhão de sestércios. Esta classe constituia uma elite privilegiada, possuidora de grandes propriedades rurais (latifúndios), cultivadas por escravos ou por rendeiros livres.

legionário
Entre os privilégios da classe senatorial contava-se o direito a exercer as mais altas funções públicas, como por exemplo magistrado, senador, governador de províncias ou grande sacerdote (cortejo de senadores).
No nível situado imediatamente abaixo da classe senatorial encontrava-se a ordem equestre, constituída por cavaleiros(2). Tratava-se de um grupo de plebeus enriquecidos - grandes negociantes, empreiteiros de obras públicas, etc. - dispondo de fortunas superiores a 400 mil sestércios. Alguns deles eram libertos, isto é, antigos escravos a quem os seus senhores tinham concedido a liberdade.
A influéncia da ordem equestre na sociedade romana foi-se acentuando pois os imperadores, para limitar o poder da ordem senatorial, passaram a apoiar-se nos cavaleiros, nomeando-os para importantes cargos políticos e administrativos.

(1) A ordem senatorial designava-se assim porque os seus elementos eram os únicos que podiam ser nomeados senadores, isto é, membros do senado, um dos principais orgãos do governo do Império Romano.

(2) Os cavaleiros eram indivíduos que, graças à sua riqueza ou devido a serviços relevantes prestados ao imperador, ascendiam, por nomeação imperial, a um novo grupo social, a ordem equestre. O nome deriva do facto de, nos primeiros tempos de Roma, os plebeus ricos terem a obrigação de prestar serviço militar como cavaleiros e, por isso, terem que possuir cavalo.



quarta-feira, 17 de outubro de 2007

 

Uma sociedade de grandes contrastes



A sociedade romana, tal como sucedia com muitas outras, caracterizava-se pela existência de profundas diferenças. A principal era, sem dúvida, aquela que distinguiu os homens livres da grande multidão de escravos.


legionárioNa verdade, a sociedade romana dependia, em grande parte, do trabalho escravo. A expansão tinha permitido obter milhares de escravos, cuja vida era de trabalho duríssimo. Para além do trabalho no campo ou nas minas, outros escravos trabalhavam nos serviços domésticos. Outros ainda eram seleccionados para gladiadores e treinados para lutarem em espectáculos públicos até à morte. Todavia, os escravos mais valorizados eram os gregos cultos. Muitos tornavam-se secretários particulares dos seus patrões e outros acompanhavam as crianças ricas nas suas tarefas escolares, à maneira grega (os escravos pedagogos).
No final do século I a.C., por exemplo, calcula-se que existiam, na Península Ibérica, cerca de três milhões de escravos (à volta de 40% da população). A difícil situação dos escravos tinha levado, aliás, a numerosas revoltas, como foi o caso da revolta de Spartacus, em 73 a.C., violentamente reprimida.
Por outro lado, entre os próprios homens livres existiam aqueles que tinham a condição de cidadãos romanos e os que não possuíam a cidadania (Só a partir do século III o direito de cidadania foi estendido a todos os habitantes livres do Império).
Finalmente, os próprios cidadãos encontravam-se hierarquizados numa escala social determinada pelo valor das suas fortunas. No grau inferior encontravam-se os membros da plebe, isto é, os plebeus. A plebe era formada por pequenos proprietários, rendeiros, artesãos, pequenos comerciantes, etc. Muitos plebeus viviam na dependência das famílias, de quem eram clientes. Os clientes eram geralmente plebeus que estavam na dependência de uma família rica e poderosa. O cliente estava unido ao seu patrono por laços de confiança mútua: o patrono ajudava-o, dando-lhe dinheiro ou alimentos, defendia-o e protegia-o. Em troca o cliente devia-lhe respeito e obediência. Dessa forma, os patronos conseguiam que a sua numerosa "clientela", na altura das eleições, votasse nos candidatos que lhes interessavam.
Havia também um elevado número de desempregados, vivendo à custa do Estado, que os alimentava com distribuições gratuitas de trigo.